16.06.16

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O VLT Carioca e o compartilhamento do espaço público


Com a inauguração do VLT Carioca veio à tona um debate esperado: o compartilhamento do espaço público. A novidade traz consigo o medo do conflito e parece até que o modal nunca fora utilizado no Brasil. A tecnologia pode até ser nova, mas o convívio entre bondinho, veículos motorizados, pedestres e ciclistas já fez parte do cotidiano do Rio de Janeiro - e foi sendo substituído pelos ônibus por sua flexibilidade de implantação e de cobertura. O sistema de veículo leve sobre trilhos (VLT) projetado para a capital carioca tem 28 km de extensão, dos quais 18 km já estão em operação. Integra-se aos outros modais de transporte público, como ônibus, BRT, metrô, trens e barcas.   

O site da concessionária responsável pelo VLT Carioca traz em sua seção "Fatos e Mitos" as explicações sobre o funcionamento do modal. É muito simples: o bondinho tem um motorista - que acelera, freia e buzina - e os pedestres devem respeitar o Código de Trânsito Brasileiro. A única diferença no caso do VLT é que ele é mais silencioso e os transeuntes precisarão ficar mais atentos ao seu trajeto.   Isso não significa que não exista risco de atropelamento, da mesma forma que há com carros, ônibus, caminhões e até mesmo bicicletas. Mas também não justifica a implantação de barreiras para as travessias, pois a velocidade média do VLT é de 15km/h. A integração e otimização do espaço público é um dos pontos mais fortes do projeto que otimiza o uso dos espaços disponíveis, facilita e traz conforto para o acesso, embarque ou desembarque.    

Este vídeo mostra como o desenho urbano varia ao longo do trajeto, adequando-se às especificidades de cada trecho. Há momentos de completa integração com o espaço do pedestre, trechos em que a via está destinada exclusivamente ao VLT (como ocorre com os corredores de ônibus) e partes onde o leito carroçável é compartilhado com outros veículos motorizados, ou seja, quando o bondinho não está passando, os carros utilizam a rua normalmente.   

Uma coisa preocupa: o uso constante da buzina. Já imaginaram que irritante? O poder público implementa uma nova tecnologia, silenciosa, e os condutores não param de buzinar para avisar os pedestres que estão passando? Imaginem aqueles que transitam por ali e até os que trabalham ou vivem junto à linha do VLT?   

Uma matéria publicada no O Globo levantava a questão: muitos não respeitam a pista exclusiva do VLT. Obviamente, a questão é relevante e a segurança viária deve estar em primeiro lugar. Entretanto, quem lê a matéria e não conhece outros exemplos implantados mundo afora, fica com a impressão de que o projeto foi mal feito ou que brasileiros são mal educados e não têm jeito. Por isso, achamos interessante trazer aqui outros exemplos - um pouquinho de repertório não faz mal à ninguém e pode qualificar o debate.   

Nesta rua em Berlim (Alemanha), o VLT compartilha o sistema viário com carros, bicicletas e pedestres, pacificamente.

Agora com o VLT ou tram passando pelo mesmo local. 

Observem a bicicleta dentro do VLT, permitindo a integração dos modais.

A altura do piso ajuda na hora de subir com o carrinho de bebê, o que, no caso do VLT Carioca é mais fácil ainda por causa do alinhamento do piso nas paradas. Agora imagine você, no Brasil, entrando em um ônibus com um carrinho de bebê... pense nas escadinhas para entrar e as internas, sem falar na catraca, claro!

Em Haia (Holanda), o VLT também compartilha o espaço com os outros modais, sem barreiras físicas que delimitem seu trajeto. Os trilhos embutidos no piso estabelecem o trajeto do bondinho, sem desnível no calçamento.

Dá para ver também que o sistema de drenagem está compatibilizado com os demais projetos, que traz um desenho de piso ligeiramente indicativo do trajeto do tram, embora com os mesmos materiais, na mesma cor.

Aqui um exemplo de VLT em cidade comparável às grandes metrópoles brasileiras: Istambul. E além dos problemas de mobilidade, a cidade tem dificuldades extras para implantação, relacionadas a patrimônio histórico e sítios arqueológicos (ou seja, se eles conseguem porque nós não conseguimos?).

E não pensem que o desenho urbano é sempre generoso com os pedestres: às vezes falta espaço, mas isto não impediu que o VLT fosse implantado.

Vejam este trecho: calçada estreita, mal conservada e muito movimentada em rua comercial turística. O bondinho passa coladinho, deixando uns 100 cm livres (obviamente, não estamos elogiando este detalhe). Dá bastante aflição quando você está andando na mesma direção do bondinho, pois a rua é barulhenta e quando você assusta ele está ali ao seu lado, em movimento!

Este é um exemplo de trecho de uso exclusivo do VLT. E se ele circula sobre os trilhos, porque não deixar o restante do solo permeável, sem pavimentação?

Vejam como o leito carroçável para veículos ocorre dos dois lados, com acesso aos edifícios.

E bem ao lado do Museu Guggenheim em Bilbao (Espanha), há também uma pista de uso exclusivo do VLT, com as devidas sinalização e travessia para pedestres. 

Quando for usar o VLT Carioca, pense em sua integração com o desenho urbano, no conforto de sua utilização. Compare-o com outros modais de transporte público como o ônibus ou o monotrilho. Cada um tem suas vantagens e desvantagens - qual você preferiria utilizar em cada trajeto feito por sua cidade?

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maria

20.09.16 às 16:12

teste

Tina Gabrich

19.08.16 às 14:10

Não sabia que já tínhamos VLT aqui no Brasil! A primeira vez que vi foi em Strasbourg, em 2001. Achei sensacional, pelo silêncio, praticidade, interferência mínima da sua estrutura nas pistas e principalmente a beleza dos veículos! Na época mereceu várias fotos!! Recentemente vi em Sevilha e ainda continuo encantada. Espero que a população do Rio aceite bem este transporte e que conviva com ele harmoniosamente como vemos acontecer em outros países!

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  Maria Teresa Diniz     urbitandem@urbitandem.com.br