20.05.16

Em cartaz: Madrid Río!


Uma das maiores surpresas que já vivenciei em uma viagem foi conhecer o projeto Madrid Río, em 2012. O fantástico parque linear nas bordas do rio Manzanares havia sido inaugurado recentemente e eu ainda não tinha lido muito a respeito do projeto ou tido contato com imagens do mesmo. Aliás, a cidade se desenvolveu tão alheia a seu rio que muita gente nem sabia que ele existia ali, diferentemente de Paris e Londres, por exemplo.

O processo de transformação urbana, ocorrido entre 2004 e 2011, teve início com os projetos do túnel que finalmente enterraria o anel viário M-30, construído na década de 1970. Em 2005, foram contratados os estudos urbanísticos que se ocupariam da integração do novo projeto viário com a cidade e lançado o concurso público internacional de projetos, cujos vencedores foram os escritórios de arquitetura Burgos & Garrido, Porras la Casta, Rubio & Álvares Sala e West-8. As obras do túnel se iniciaram em 2007 e as do parque em 2008.

Quase 1,3 milhão de m2 de superfície, dos quais 68 mil m2 estão dedicados ao uso público direto, como esportes, serviços públicos, lazer, acessibilidade, sustentabilidade, mobiliário urbano e iluminação pública. Tudo perfeitamente executado.

Os arquitetos responsáveis pelo projeto Francisco Burgos e Ginés Garrido, nas extremidades esquerda e direita, respectivamente, José María de Lapuerta, Maria Teresa Diniz, Marina Escribano e Marion Katscher.

Ponte de Toledo: são 33 pontes ao longo do Madrid Río e 5 delas são históricas e foram renovadas.

Os parquinhos não utilizam brinquedos padronizados, mas têm seu projeto desenvolvido de forma a compatibilizar-se com o paisagismo do parque. São incríveis e fica até difícil de encontrar bons ângulos para uma foto que faça jus a eles. Este é o meu preferido, com diversos escorregadores abertos e em tubo, que atravessam o morrote artificial. Há paraciclos junto à cada equipamento, para que se chegue até eles de bicicleta.

O parquinho chamado 'Esqueleto' tem teias de corda penduradas nas estruturas de madeira. O banco de granito tem trechos sem encosto, para que seja possível sentar-se para os dois lados, e também com encosto de madeira. Observem que a altura do assento também é variável, permitindo maior conforto para as crianças.

Uma série de brinquedos vão conformando os parquinhos para crianças ao longo do Madrid Río, utilizando a madeira como principal material.

Não são umas fofuras estes porquinhos? Agora imagine que você morava ali ao lado, num daqueles apartamentos com vista para o hostil anel viário, e agora você pode observar crianças brincando no parquinho e usufruir deste parque maravilhoso na porta de casa? Mais do que merecido para os que sofreram com as externalidades do M-30 por tantas décadas.

Mas a brincadeira não fica limitada aos parquinhos; tem oportunidade em todos os cantos. A sombra da ponte existente cria o ambiente perfeito para uma leitura e descanso do bebê ou para um surpreendente e divertido balanço. Olha o banco de granito com encosto de madeira novamente ali no fundo!

Aula de patins para crianças? No Madrid Río tem.

E quando o córrego é intermitente ou tem pouca vazão de água? O Huerta de la Partida, um dos mais de 30 afluentes, foi urbanizado assim, com pedras enrocadas.

Detalhe do acabamento das pedras sobre o solo.

O mobiliário urbano surpreende pelo uso de materiais nobres, resistentes e duráveis - como madeira, granito e aço inox - empregados com originalidade, completamente integrado ao desenho urbano. Este banco de madeira com encosto serpenteia um dos generosos caminhos do parque.

A Ponte Monumental de Arganzuela é a única que não foi projetada pelos escritórios vencedores do concurso. Quem assina seu projeto é o arquiteto francês Dominique Perrault, criando dois segmentos de ponte que se encontram ao meio. Um pouco "monumental" demais para o meu gosto e nada de sustentável se consideramos o volume de material empregado e solução adotada - que implicam em maiores custos para evitar o emprego de pilares. A ponte é utilizada para o transporte não motorizado: pedestres e ciclistas.

Esta singela ponte disfarçada de caminho vence o pequeno vão de um afluente.

A vazão é controlada artificialmente (ou seja, a água que corre ao longo do rio precisa ser complementada para que o espelho d´água se regularize). E a cidade ainda enfrenta questões relacionadas à poluição de suas águas, mas isso não estraga o belo passeio no Madrid Río. Se for a Madri, visitar o projeto é obrigatório!

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  Maria Teresa Diniz     urbitandem@urbitandem.com.br